O cantor sertanejo Eduardo Costa já admitiu ser viciado em sexo e precisou fazer tratamento para conter seus ímpetos sexuais. “Tenho problema com isso [sexo], rapaz, eu faço umas 15 vezes por semana, eu tô falando sério”, disse, durante participação no canal do YouTube “Conceito Sertanejo”, no ano passado. “Ainda tô fazendo tratamento para dar uma segurada.”
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), esse vício é conhecido como transtorno do comportamento sexual compulsivo. Mas ele pode ser facilmente confundido com uma alta libido, segundo o professor de psiquiatria Danilo Baltieri, que se especializou em transtornos sexuais durante seu doutorado na USP (Universidade de São Paulo).
Ele explica que o diagnóstico de vício em sexo não depende da quantidade de vezes em que um indivíduo se masturba ou transa por dia, mas da perda do controle sobre o desejo. “O vício é quando o indivíduo não consegue adiar a vontade. É um comportamento intenso e persistente que causa prejuízo, porque a pessoa deixa de fazer outras atividades, inclusive profissionais, em função do sexo”, diz.
Segundo Baltieri, esse vício está relacionado à dopamina, um dos principais hormônios ligados ao prazer, que é liberado após a prática de sexo e o consumo de drogas como álcool, cocaína, heroína e nicotina. “Há um denominador neurobiológico comum ao vício em sexo e outras drogas. É por isso que muitos dependentes sentem a necessidade de aumentar progressivamente a prática sexual. Já atendi pacientes que transavam 17 vezes ao dia, por exemplo”, diz ele, que criou um dos poucos ambulatórios brasileiros preparados para tratar quem sofre de transtornos sexuais.
Mas o professor explica que, diferente do vício em drogas, a compulsão sexual frequentemente passa despercebida pelo círculo social do paciente, que precisa procurar ajuda por conta própria. “O grande problema é a baixa adesão ao tratamento. Cerca de 80% desiste”, diz. “É claro que depois vem a tristeza e o remorso, mas a sensação de prazer provocada pelo sexo é muito mais poderosa para a memória do que a lembrança negativa. É igual droga. Precisa ter muita vontade para se tratar.”
Tratamento
Não há cura para o vício em sexo, mas há como controlá-lo. O tratamento é realizado por psiquiatras, que avaliam a suspeita do paciente e dão o diagnóstico para, em seguida, receitar medicamentos que ajudam a controlar a busca excessiva por sexo —em geral, antidepressivos com propriedades ansiolíticas.
Em paralelo, o paciente precisa passar por sessões de psicoterapia. A linha terapêutica mais indicada por especialistas é a cognitivo-comportamental, mas outras abordagens, como a psicodinâmica, podem ajudar pacientes cuja compulsão sexual está relacionada a problemas como abuso sexual sofrido na infância.
O tratamento funciona como um treinamento, explica a psicóloga Priscilla de Castro, especializada em transtornos sexuais. “A terapia cognitivo-comportamental ajuda o indivíduo a se perceber de maneira funcional e questionar suas distorções de comportamento. O treinamento consiste em estratégias e ferramentas que a gente insere na vida daquele indivíduo para ajudá-lo a driblar suas dificuldades. Através disso, eles vão ressignificando seus comportamentos”, diz.
O professor de psiquiatria Marco Scanavino, que coordena um ambulatório especializado em transtornos sexuais da USP, afirma que a psicoterapia também ajuda o paciente a lidar com variações de humor e gatilhos que podem pôr em xeque o tratamento. “É como se houvesse um estímulo maior para a parte afetiva da sexualidade em detrimento da vivência genital”, diz. “O sexo é extremamente importante e benéfico para saúde mental. Por isso, o que a gente busca não é abstinência, mas um equilíbrio maior na prática.”
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