Lado B das lives

 


É inegável que as lives bombaram em 2020. Mas, longe de ser “só” um negócio dominado pela música sertaneja ou pop — envolvendo altos patrocínios —, elas foram a tábua de salvação para outros nichos que dependem da presença do público para levantar grana. Exemplo disso são as companhias ou grupos de teatro, casas de show, música clássica e outros. Aqui em terra brasilis há pouco tempo rolou o espetáculo “Ensaio sobre a Perda”, que foi totalmente preparado e transmitido online em tempo real para pessoas do país todo. De acordo com o dramaturgo e ator da peça Herton Gustavo Gratto, apesar da mudança, a versão virtual permitiu o alcance de mais pessoas e lugares diferentes. Para ele,  a nova linguagem veio para além da pandemia. Pois é, a adaptação a esse formato pode até parecer passageira, porém a real é que ela está abrindo caminho a um novo jeito de se consumir conteúdo e ampliar o acesso a uma variedade artística ao redor do mundo.


A realidade não compen$a

Uma pesquisa recente feita pela associação da Society of London Theatre (SOLT) e UK Threatres indica que de 944 negócios entrevistados nesse ramo, quase metade informou estar desenvolvendo algum tipo de atração digital. Embora por lá a vacina esteja avançada (alô, inveja), a lotação de locais fechados, como os teatros e casas de show, tem rolado de modo parcial. Contudo, para a galera que trabalha no setor, acaba não compensando investir em apresentações físicas por conta do baixo público. Então, o jeito é aproveitar o que o digital tem a oferecer — e com pouco custo, vale dizer. Nesse tipo de trabalho, o contato com as pessoas é um termômetro sobre a recepção de uma atração. Daí, longe de se prender em um tipo de transmissão estática, ou com uma câmera parada o tempo todo, o pessoal do setor tem buscado inovar com diferentes recursos e plataformas.


A gente não quer só comida...

Empresas e grupos europeus dos mais diversos tipos encontram, por exemplo, na Marquee TV um lugar para chamar de lar em meio à pandemia. Através da plataforma, são feitas transmissões ao vivo de peças de teatro, concertos de música clássica, óperas, balés —inclusive conceituadíssimos, como Bolshoi, — etc. Do lado das telinhas, a galera interessada nessas produções pode pagar assinatura ou comprar cartões presente para assistir às programações. O serviço ainda permite o acesso on demand desses conteúdos e oferece atrações curtas e gratuitas para quem não é pagante. Aqui no Brasil, as coisas estão rolando de forma variada também. Por exemplo, artistas independentes têm usado o Sympla tanto para vender ingressos quanto para transmitir trampos de teatro, música e dança.


Rir para não chorar

O Sesc São Paulo também lançou o projeto #emcasacomsesc que exibe via YouTube e Instagram uma programação diversa de atrações artísticas. Saindo um pouco desse ambiente, tem rolado lives de stand up ou produções cômicas, como do pessoal do The Live Comedy aqui no Brasil, e lá fora com o Next Up Comedy, uma plataforma on demand gratuita que reúne apresentações organizadas em categorias. Ano passado, a atriz Fernanda Paes Leme criou a websérie “Fake Live”, que atingiu 1,5 milhão de views no Instagram e rendeu a ela vários prêmios. Lá fora, a atração de terror “Swamp Motel” desde 2017 esgotava as vendas de ingressos em exibições ao vivo que envolviam a participação do público. Porém, com a pandemia, lançaram a atração teatral “Plymouth Point” com transmissão no Zoom. Através disso, a galera desvenda um caso, na linha detetive, junto de outras pessoas (remotamente, é claro).


O futuro é híbrido

Para fechar esse papo de lives fora do mainstream, em 2020 o National Theatre de Londres criou uma versão de “Romeu e Julieta” com diferentes técnicas de gravação/câmera, para levar a experiência do teatro para as telinhas. Esse pessoal também planeja usar recursos de Realidade Virtual e Realidade Aumentada para incluir a atração nos cinemas futuramente. E, por falar nisso, outra tendência que vem aí pela frente, no pós-pandemia, é a dos concertos e eventos híbridos. Para quem não sabe, essa categoria permite aos artistas a venda de ingressos de shows ou apresentações presenciais (com um público reduzido) e online (mas com preço menor). Experts do setor acreditam que essa variedade de lives, vista no conforto do sofá ou pertinho dos palcos, vai tornar o segmento artístico mais acessível e interessante para as pessoas. Que assim seja...

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